E Agora John?

E Agora John?

 

Garoto ainda, nove anos de idade, fazia parte de uma igreja Assembleia.

Meu cunhado estava me ensinando violão, uma música, três acordes apenas, dedos trôpegos, mas o sorriso de orelha a orelha, já me considerava um violonista.

Num domingo de manhã, escola dominical, tudo normal como sempre, a professora quis fazer uma dinâmica e perguntou se alguém sabia tocar violão, levantei afoitamente a mão, eu seitodos me olharam, você sabe? Que legal! A gurizada ficou encantada, uns duvidaram, claro! Mas eu virei herói momentâneo, rei caolho; não disse que sabia uma música só, por que diria? Não havia nenhum violão à vista, deixa como está… mas não, o coisa ruim sempre quer fazer o circo pegar fogo, fazer a saia voar e, voilá, a querida professora disse a única coisa que não deveria dizer,vou buscar o violão.”

Tranquei o fiofó na hora, por que essa bendita não ficou calada? Por que não acreditou que eu sabia e pronto? Pra que tirar a prova dos nove? A conta já estava fechada, estava tudo certo, mas não, aquela maldita incrédula queria me ouvir tocar, só para zombar desse garotinho, enfear meu sorriso, tirar meu trono, ofuscar meu brilho, anarquizar meu reino. Que ódio, que raiva, que medo! E agora John?

Se fosse hoje, lembraria do que meu professor de harmonia disse, “músico é que tem que provar na hora o que diz ser.Você é músico? Toca aí pra eu ver! Ninguém diz a um que se diz pedreiro, faz uma parede pra eu ver, ou a um médico, faz uma cirurgia aí pra eu ver, ou a uma professora, ensina aí pra eu ver; muito pelo contrário, a um diz, pedreiro? Que legal! Eu queria saber fazer uma casa também; ao médico dizem, doutor, sua profissão é divina, aleluia! Professora? Que profissão linda! Deus lhe ajude!

A mim disseram, toca aí pra eu ver!  Pensei, ferrou!

Ela foi buscar o violão e eu pensando numa estratégia de fuga, sair correndo seria feio e eu não poderia voltar mais, mas teria que voltar, minha mãe me obrigaria… alegar dor de barriga seria uma saída, não muito digna, mas ainda boa… e agora John?

E chegou o fatídico violão; o suor começou a escorrer em minha fronte, meu pai! Ele chegando perto e minhas mãos frias e trêmulas! Peguei. ó que alegria, faltava a primeira corda, a fininha; quem vai tocar sem a corda fininha? Eu não! Tá pensando o que minha filha? Toco nisso não! Espera aí que vou buscar uma corda…

Desgraçada! Filha da…! Por que não se cala? Cara, não é possível! Professora não é de Deus!

Chegou ela com a maldita cordinha, que hoje eu sei que chama mi prima, eu não sabia na época, claro! Eu desesperado já, tive uma ideia, elas sempre ferveram em minha mente, as ideias, vou sair lá para o pátio pra colocar a corda, aqui dentro está muito barulhento, tenho que afinar o violão, (detalhe, só aprendi afinar quatro anos mais tarde.)

No caminho de Emaús, quer dizer, do pátio, Deus me deu uma ideia, ô Deus maravilhoso que não desampara o oprimido, arrebenta essa corda meu filho; pude ouvir nitidamente, essa voz da minha mente, rsss e foi o que fiz.

Voltei “triste”, a corda arrebentou! Não será hoje que me ouvirão tocar! Que pena!

Aí, a professora disse, “vou buscar outra corda.”

Não, ela não disse. Ainda bem! Ufa! O John escapou ileso, com vida. Um pouco abalado, mas a vergonha era interna somente. Hoje não digo nunca que toco violão. Credo!

João Costa