A última geração a se levantar de madrugada

Sou dos anos 70, levanto-me às 4:00 da manhã dia sim, dia não, para trabalhar por 12 horas consecutivas. Na estação de ônibus vejo muitos idosos aposentados na fila, indo trabalhar. Mais de cem pessoas nos 40 minutos em que fico esperando meu ônibus, na esperança de conseguir um lugar para me sentar e conseguir trabalhar o dia todo.

Fico pensando na condição deles. São mais velhos que eu e parecem ter a saúde comprometida. No entanto, fazem uma algazarra maravilhosa naquela estação: piadas, risadas e gozações com os amigos feitas ao longo dos anos passados juntos nessas horas de espera.

Também percebi que a presença de jovens é bem reduzida. Quase não há pessoas com menos de vinte e cinco anos nessas horas matinais; eles não se levantam mais tão cedo, não precisam. Podem escolher trabalhos com horários mais flexíveis e cargas horárias mais curtas. Que bom que a luta dessa geração dos anos 70 pôde ajudar um pouco com isso. Fico feliz.

Os jovens não têm medo de mudar de emprego como nós, os cinquentões. Como gostam de dizer: não se apegam a nada. Não sei se isso é bom ou ruim, mas com certeza é uma maneira mais leve de viver.

Afinal, “a vida não é sobre como tudo termina, mas sim como a vivemos enquanto nela estamos.”

Sinceramente, acho que somos a última geração a se levantar de madrugada.

João Costa