UM LEIGO EM MEIO AO CLERO
Desde a década de 70, tenho me relacionado com o cristianismo e os cristãos evangélicos, entre outros. Minha mãe já pertencia a uma igreja pentecostal quando nasci. Por isso, conheço muitos pastores, alguns legais, outros nem tanto. Vários amigos da minha adolescência também se tornaram pastores.
Um dia, fui visitar um desses amigos acompanhado de outro amigo que também é pastor. Ao chegarmos lá e começarmos a conversar, um terceiro amigo pastor se juntou a nós para participar do bate-papo.
Enquanto a conversa fluía entre eles, percebi que estava sendo deixado de lado, pois eles se concentraram em um canto e diminuíram o volume das vozes. Como não sou bobo, comecei a folhear uma revista que estava por perto, fingindo interesse, enquanto os três trocavam ideias “pastorais” entre si. Claramente eu não tinha acesso ao nível das informações que estavam discutindo e acabei ficando à margem da conversa.
Essa situação continuou por vários minutos e, após cerca de quarenta minutos, percebi que minha presença ali não era necessária. Pensei em me despedir e ir embora, mas logo vi que nem isso seria notado ou necessário, já que o assunto parecia ser confidencial entre eles. Então, cometi uma travessura e saí discretamente, pensando que quando notassem minha ausência ficariam sem jeito.
Não tenho certeza exata de quanto tempo se passou desde então, talvez uns cinco anos ou mais. Nos encontramos algumas vezes depois desse episódio, mas nunca os quatro juntos, e o assunto nunca foi mencionado.
Confesso que me afastei bastante de todos eles ao longo dos anos. Após esse incidente, percebi o quão isolante e solitário pode ser o sacerdócio. A pessoa assume uma posição de sacerdote e às vezes se coloca acima dos outros, incapaz de conversar ou trocar ideias com pessoas consideradas “inferiores”, ou discutir sobre teologia com um simples leigo. Eu entendo. Como bom amigo, cedi meu espaço a eles.
Aos poucos fui me ausentando. Que Deus os abençoe sempre.
P.S.: Ah, acho que ainda não perceberam minha ausência.
João Costa